Dia dos Pais...


Hoje sentei na minha cama e tentei lembrar o que dei pro meu pai ano passado de Dia dos Pais...não cheguei à lugar nenhum...pelo contrário, fiquei com aquela agonia chata de não lembrar as coisas.
No vai e vem, pensei no que poderia dar esse ano, ou o que poderia escrever...foi quando passou um filme na minha cabeça, e antes que esse filme acabasse decidi pegar o computador e escrever algumas coisas mesmo que com antecedência, o importante são os pensamenos e lembranças.

Quando eu era mais nova (e confesso, até um pouco hoje em dia) tinha uma fixa idéia de que eu só seria inteligente se conseguisse ler "O Pequeno Príncipe" em mais de quatro línguas, só porque meu pai tinha todos os livros. Me interessava por Direito a ponto de pensar cursar a faculdade só para ver ele ter orgulho de mim. E percebi que não precisava ser igual à ele para ele me olhar e sorrir, eu só precisava mostrar que ele fez (e continua fazendo) um ótimo trabalho, modéstia a parte......

Meu pai sempre demonstrou para mim e para as minhas irmãs que ser esperto não é uma vantagem tão grande, os espertos gostam de levar vantagem em tudo, de tentar ser malandro, de achar a honestidade uma característica negativa. Meu pai sempre foi muito honesto, tem a teoria que se o padeiro colocar um pão a mais e você só notar em casa, tem que devolver o pão ou voltar para pagar.....e eu sempre pensei "$0,20?", mas a honestidade não é medida em moedas, é medida em atitudes e isso meu pai sempre teve. Além de honesto ele é gentil, gentil com a minha mãe, gentil comigo e com as minhas irmãs, gentil com as pessoas que estão nas ruas, até gentil com aquelas pessoas que não merecem nem um pouco de gentileza.
21 anos vendo a vida desse ângulo, por isso talvez que eu tenha medo das pessoas lobistas, das ambiciosas demais, dos espertinhos...por isso talvez que odeie quando meus amigos "pegam algo" do supermercado, da feirinha, da balada...não suporto levar vantagem. Isso tudo corrompe amizades e corrói amores. Apenas tenho que lembrar que as pessoas não são como meu pai, por isso às vezes a decepção me mata e as lágrimas me consomem.

Comecei a voltar no tempo....lembrar de quando meu pai brincava de esconde-esconde no escuro dentro de casa, comigo e com as minhas irmãs. Minha mãe não achava graça, sempre no final da brincadeira uma das três saia chorando...claro, meu pai tem um Q de Joselito...até as cócegas dele machucam, mas não é por mal...ÓBVIO que não, como citei acima, ele é a pessoa mais gentil que conheço, o problema é que ele nunca teve filho homem e talvez alguns momentos sinta falta de brincadeiras um pouco mais agressivas. Eu com 6 anos de idade já era viciada em futebol, sabia a escalação da seleção brasileira, sabia que o Romário era mal caráter e que o Corinthians era o melhor time do MUNDO. Ele me ensinou a jogar baralho também, nada de jogos de apostas, ele não queria me viciar, jogos bobos onde eu sempre ganhava. Meu avô fazia igual comigo, me fazia assistir aos jogos do Corinthians sentada em seu sofá de couro preto, com uma mantinha quadriculada, um cinzeiro ao lado (pra ele é claro) e gritando gol. Depois me levava até a mesa de jantar, me dava um copo do Garfield de plástico lotado até a boca de Guaraná e jogava cartas comigo...não me lembro de ter perdido uma vez. Tal pai, tal filho. Provavelmente casarei com alguém que deixe as crianças ganharem também, afinal.....dizem por ai que toda mulher procura em seu futuro marido a imagem de seu pai embutida.
Todo pai ensina o filho a ser guerreiro, não ter medo de nada...mas meu pai não foi assim, ele me ensinou a ter medo de tudo...de brincar na rua, de entrar no mar sozinha, de comer besteiras na feira, de andar nas ruas perigosas de São Paulo, de doenças contagiosas e de muitas outras coisas. Em compensação, meu pai me ensinou muitas coisas que ninguém ensina por ai, me deu base para ser quem eu sou, para crescer, para me entender, para ser feliz comigo mesma. Ele nunca pulou comigo de um brinquedo muito perigoso, tanto porque, ele tem medo também, mas me ensinou a viver num mundo rico, cheio de imaginação, garra, senso, bondade e amor dentro da minha cabeça.
Me ensinou a ouvir, a falar, a escrever...

Me sinto boba quando meus amigos mostram as cicatrizes que ganharam andando de bicicleta, eu nunca andei em uma. Mas me sinto a maior pessoa do mundo quando vejo os mesmos amigos me pedindo ajuda com as palavras de um e-mail sentimental, ou como acabar um relacionamento que não dá mais ao invés de fugir.
Descobri que o "príncipe no cavalo branco" dos contos de fadas na verdade é meu pai, ele pode não ser perfeito, mas ele me deu capacidade pra me tornar uma pessoa incrível, agora só depende de mim.

2 comentários:

Kaos Project disse...

Virou blogueira dnovo Bebel!
Bom só passei pra deixar um bjo pra vc!
E um abraço pro Tio Dip, que ele merece! Até pra minha mãe ele ensinou alguma coisa! hahahahahahahaha
Ateh +!

inside.voices disse...

Nossa Bbel, adorei o que vc escreveu. E mais, me identifiquei com muita coisa.
Meu pai sempre foi muito mais preocupado em contribuir para a boa formação do meu caráter do que se eu andava de bicicleta ou patins.
Parabéns pelo seu papai! E que um dia, mais do que arranjar um marido como ele, seja um mãe tão boa quanto.
Bjão
Seh